08/06/2011

Cavalos-marinhos e outras belezas naturais de Pernambuco

 









Cavalos-marinhos




Os cavalos-marinhos são as principais estrelas no cartaz de delícias naturais em exibição no litoral sul de Pernambuco. Passeio por Maracaípe e em Porto Galinhas, numa fase decisiva de transição do vale tudo para um modelo de turismo sustentável

O lugar é de uma beleza extraordinária. Chama-se Pontal de Maracaípe e é um estreito canal de pouco mais de meio quilómetro, através do qual o rio do mesmo nome encontra o seu caminho até ao mar.

 Tudo em volta são densos mangueirais, no próprio pontal rematado por uma praia de areias finíssimas.

Não será um segredo bem guardado, mas o estuário do Maracaípe também não é vítima do assédio turístico que se testemunha na vizinha Porto Galinhas, quatro quilómetros a norte. 

Mais o género de praia procurada pelas famílias do Recife (57 km) que aqui abancam para um fim-de-semana sossegado.

 As águas são da mais completa placidez, permitindo deixar as crianças à vontade, e tão quentes que as cadeiras e chapéus de solo são instalados já dentro de água.

Magia num boião

A animação neste estuário de tranquilidade consiste em apanhar uma das coloridas jangadas atracadas junto ao Bar do Pontal (designação correcta, visto que é exemplar único). 

A excursão passa por navegar rio acima e descobrir a biodiversidade do mangue, incluindo camarões miúdos designado de aratanhas, caranguejos acinzentados chamados aratus e cavalos-marinhos. 

O jangadeiro de serviço começa por avisar que não é seguro encontrá-los - e talvez haja um ou outro caso em que isso não acontece. 

Mas a advertência deve ser sobretudo para criar expectativa, uma vez que os peixes em causa não primam pela mobilidade, podendo frequentemente ser encontrados nos mesmos sítios. 

É, aliás, por não se darem bem nas águas agitadas do mar, que os cavalos-marinhos procuram recifes e estuários fluviais.

Lançada a bóia, algures num recanto da margem não habitada do rio, o jangadeiro coloca uma máscara e despede-se dos clientes. 

As águas têm de estar razoavelmente limpas, de contrário os cavalos-marinhos não sobreviveriam.

 Mesmo assim são águas com muitos sedimentos à mistura, que não permitem enxergar à vista desarmada o fundo pouco profundo.

 É aí precisamente que se encontram os cavalos-marinhos, que têm uma cauda preênsil, sem barbatanas, de forma a ancorarem no substrato fluvial e assim ganharem mais estabilidade. 

Claro que o jangadeiro, agora nos seus 30 anos de idade, deve ter passado a vida inteira a treinar a vista nestas águas diáfanas e passados menos de cinco minutos reemerge, desta feita com um boião cheio de água e dois cavalos-marinhos lá dentro.

O boião passa de mão em mão, enquanto o próprio jangadeiro vai disparando informação útil sobre os bichos.

 Com especial ênfase nos seus hábitos sexuais, o acasalamento monogâmico e a gravidez dos machos, ou pelo menos essa parte exótica parece ser aquela que a memória melhor retém. 

Porque o momento em que o frasco passa para a nossa mão, em que colamos o nariz contra o vidro e engatamos numa espécie de sintonia com aquelas criaturas de anatomia insólita, tudo o resto à volta desaparece. 

Enquanto essa suposta sintonia dura não há mais nada, nem mais ninguém, o mundo pára e só voltamos a despertar quando alguém nos toca no ombro...para não esquecermos de passar o boião.

Primeiras reacções

A visita aos cavalos-marinhos do Pontal de Maracaípe é uma experiência mística, uma coisa única (ou pelo menos rara) no mundo e, como quase todas as maravilhas da natureza, está ameaçada de morte. 

As causas são previsíveis e até estão à vista. 

É a pressão dos especuladores imobiliários, que não param de construir hotéis e resorts, mas também a ocupação selvagem dos sem terra, que concorrem para o desmatamento crescente do mangue. A própria qualidade das águas do Maracaípe está em causa quando Ipojuca, o município que o rio atravessa, está ainda muito carecido de saneamento básico.

Em risco está a reserva dos cavalos-marinhos, todo o ecossistema do Pontal de Maracaípe, mas também a subsistência de meia centena de famílias de pescadores e jangadeiros. 

Alguns passos decisivos no sentido contrário, ou seja, em direcção à regeneração e ao turismo sustentável começam, por outro lado, a ser dados. 

A área do estuário está agora classificada como reserva ecológica com um cartaz bem visível à entrada, prometendo detenções no mínimo de um ano para quem cometer crimes ambientais, como colectar ou manejar cavalos-marinhos - que morrem se estiverem nem que seja um segundo fora de água.

Mais recente é o projecto Hippocampus (nome da classe a que pertencem todas as 32 espécies de cavalos-marinhos), nascido em Porto Alegre, mas transferido para Porto Galinhas, por convite da edilidade de Ipojuca. 

Lançaram em finais do ano passado um programa educativo, que além da implantação de um centro de visitação e educação ambiental no Pontal, visa "capacitar" os jangadeiros e, mais em geral, instruir a população escolar das redondezas.

 O programa tem um custo próximo de um milhão de euros, é financiado pela Petrobras (maior empresa do Brasil) e visa sensibilizar/mobilizar os actores locais, doravante designados de agentes ambientais.

No futuro, seguramente, os passeios e as próprias embarcações que navegam no Maracaípe serão mais formatados, o acesso aos cavalos-marinhos mais condicionado e o visitante terá um contacto com a natureza muito próximo de um parque temático. 

Mas esse é o preço a pagar, afinal, para o selvagem se manter (mais ou menos) selvagem. 

A mesma tendência se verifica, aliás, em relação às famosas excursões de buggy pelo areal, uma das imagens de marca do turismo no litoral de Pernambuco. 

Estes veículos estão agora proibidos de circular na praia, por uma variedade de razões entre as quais se destaca a desova das tartarugas, comum em toda costa sul do Recife, mas com especial incidência na Praia de Maracaípe, logo a seguir ao Pontal.

Desafio coral

Há dezenas de praias mais ou menos desertas, disseminadas pela costa, acima e abaixo de Porto Galinhas. 

Já a praia da Vila é uma confusão bestial, sobretudo ao fim-de-semana, férias escolares e afins. 

A concentração de chapéus forma um escudo colorido, tão compacto que quem for depois das nove na manhã nem precisa de levar protector solar. 

Já chegar à água, ali mesmo a dois passos, pode ser mais complicado, quando é preciso fazer caminho por uma selva de cadeiras, sacos de praia e geladeiras. 

Apesar ou justamente por causa destes magotes de gente há um interminável batalhão de vendedores em circulação permanente por entre os raros espaços livres, apregoando e carregando uma variedade de artigos que vai de flores a artesanato, passando por toda a espécie de comes e bebes.

É uma enorme balbúrdia, sem dúvida, mas é por isso mesmo que Porto Galinhas tem piada. 

Porque é um salão de festas à beira mar, um dos sítios onde os pernambucanos mais gostam de confraternizar com os seus e meter conversa com os outros. 

A socialização acontece sob o signo de uma fabulosa jóia natural que cintila no mar, a escassa meia centena de metros da areia. 

São as chamadas piscinas naturais recortadas por um paredão de recifes, que se alonga por vários quilómetros. 

Apesar de não durar mais de cinco minutos, a viagem que se empreende para lá chegar em jangadas de velas coloridas com estampados publicitários é parte fundamental da diversão, o género que faz o turista sentir-se vedeta de um filme romântico, rodado algures nas Caraíbas.

Mas o turismo tem uma tendência natural para matar aquilo que ama e Porto Galinhas não é excepção.

 Entre o carinhoso embalo da jangada e a excitação de dar de comer na mão a centenas de peixes tropicais, os turistas nem reparam por onde andam.

 Na verdade, há alguma incerteza a esse respeito.

 Alguns dizem que são recifes formados por corais. 

Ou seja, nem rochas, nem vegetais, mas animais (da mesma família de invertebrados das alforrecas, anémonas e hidras) de uma extrema fragilidade, que podem estar a ser asfixiados por quem lhes pisa a boca.

 Outros dizem, porém, que são recifes de arenito, resultantes da consolidação de antigas praias ou bancos de areia, de facto, a formação mais comum nas costas do Recife. 

Nesse caso, obviamente, não se trata de seres vivos, mas nem por isso os cordões de arenito constituem um ecossistema menos sensível.

Os activistas não demoraram a vir a público alertar para a degradação dos recifes, o que levou os jangadeiros a tomarem a iniciativa de demarcar uma zona de protecção, ou de exclusão de visitas.

 Até que a prefeitura de Ipojuca decretou a redução da área visitável de 30 para 7 por cento do recife, onde as visitas passaram a ser seguidas por agentes ambientais. 

Assim, por exemplo, se nalgumas piscinas naturais se continua a poder alimentar os peixes, noutras - como o caso da mais famosa, aquela que tem a forma do mapa do Brasil -, há agora um cordão de segurança, que obriga os visitantes a ficarem à distância.

O Público viajou a convite da Embratur - Instituto Brasileiro de Turismo

Como ir

Ida e volta Lisboa-Recife, na Iberia, desde 626€. De Recife a Maracaípe são 75 quilómetros, por uma estrada que está a ser ampliada de duas para quatro faixas. 

É de prever demoras junto dos troços em obras.

Onde ficar

A alternativa aos grandes resorts fechados sobre si mesmos são as pequenas pousadas, em geral mais próximas ou mesmo no centro da vila, mesmo assim quase sempre a dois passos do mar.

Pousada Porto Verde

Loteamento Recanto Porto de Galinhas, praça 1, lote J

Telefone: 0055 81 3552 1410 e site: http://www.pousadaportoverde.com.br

Vivenda de dois andares, todos os quartos com redes e pequenas varandas. 

A cem metros do centro da vila. Duplos desde 70€

Pousada Koala

Rua de Beijupirá, Porto Galinhas

Telefone: 0055 81 35221145

Pousada singela, central, sossegada e barata. Desde 40€

Ecoporto

Av. Beiramar, s/n, Merepe 2 - PE 09 Km 6,5, Porto Galinhas

Telefone: 0055 81 3552.1781 e site: www.ecoporto.com.br

28 Quartos todos frente ao mar, por estes lados quase sempre bravio, mas em compensação na praia não há vendedores nem miúdos aos berros. 

O sossego paga-se: duplos a partir de 100€

O que fazer

Enquanto o centro de interpretação de Maracaípe não abre, o Projecto Hippocampus tem um laboratório de Aquicultura Marinha, junto à sua sede em Porto Galinhas. 

Chama-se Labaquac e nos tanques da sua sala principal é possível seguir todo o processo de desenvolvimento dos cavalos-marinhos.

Onde comer

Bar do Pontal

O tal que fica mesmo no coração do Pontal, na frente das jangadas.

 Caranguejos e camarões apanhados ali mesmo em frente são as especialidades. 

Também há ambulantes que vendem esses e mais petiscos na praia, por metade do preço.

Beijupirá

Rua de Beijupirá, s/n, quadra 9, lote A, Porto Galinhas

Telefone: 0055 81 35222354

Especializado em frutos do mar, um dos melhores de Porto Galinhas.

Rio de Janeiro a cidade do Chico


Rio, a cidade do Chico


Restaurante Tia Palmira Barra de Guaratiba 


"Até agora só pensei no restaurante da Tia Palmira, em Guaratiba". Tia Palmira é uma tradição do bairro de Guaratiba conhecido pelos restaurantes rústicos que servem peixes e frutos do mar. 

A tia Palmira foi a primeira das "tias" (em geral cozinheiras, mulheres de pescadores) de Barra de Guaratiba. Começou nos anos 1970 a fazer o localmente conhecido PF (prato-feito) para surfistas numa época em que a Barra de Guaratiba era ainda menos frequentada.

 A fama espalhou-se e a Tia Palmira criou o menu de degustação. 

Foi pioneira e tornou-se a "tia" mais cara (hoje o menu custa 45 reais por pessoa) e uma referência para as famílias cariocas e turistas estrangeiros no fim-de-semana. Catarina Soares do Carmo, que trabalha com Tia Palmira desde o início, lembra que Chico Buarque vinha com toda a famíilia quando as filhas ainda eram pequenas.

 " Está vendo aquele caminho lá ? - aponta - Tinha uma casa para lá. 

De vez em quando ainda aparece mas não como antes".

Com Tia Palmira afastada por motivos de saúde há uns dois anos (ainda mora em cima do restaurante), a experiência não é mais tão calorosa nem deliciosa. 

Para quem nunca foi, no entanto, ainda vale a pena degustar entradas de camarão frito, pastel de camarão, casquinha de siri e mais de dez pratos, como bobó, vatapá, moqueca de peixe, lulas refogadas e risoto de frutos do mar. 

Antes da entrada, é servido um caldinho de sururu. 

E de sobremesa um menu de doces caseiros.

 Quem quiser experimentar as outras tias, não é difícil encontrá-las. 

Uma alternativa é tentar o Bira, restaurante de um dos filhos de Palmira de Souza Leal. 

A casa do filho da Tia Palmira fica em frente da a Restinga da Marambaia. 

O menu é à la carte com pastel de camarão e siri, filé de robalo com arroz de camarão ou moqueca de camarão, ou ainda o arroz de frutos do mar.